Jantar de despedida



Aos poucos chegavam os convidados que admiravam a longa mesa elegantemente decorada. Aos poucos chegavam os convidados que admiravam a longa mesa elegantemente decorada.

Algumas imperfeições nas distâncias entre talheres e pratos, dão alguma humanidade a tal perfeição, e a presença simultânea de empregados que terminam a decoração e convidados que cirandam na sala, aportam um ambiente familiar que parece agradar a todos.

Entre alguns sorrisos de cumplicidade com a Chefe de Sala que já me conhece há alguns anos, num só olhar responde-me ás sempre repetidas perguntas “Sim, vi as restrições alimentares, está tudo controlado”.

Não me canso de ver estas mesas decoradas e espero nunca me habituar, para não parar de me surpreender e maravilhar.

Volto a contar os convidados e, já quase ao fim de uma semana, não estranho quem sempre falta à hora marcada.

Também há, por esta altura, quem antecipe o meu comportamento por previsível e apanham-me a olhar para o relógio e a contar convidados.

“Always the same one” oiço alguém que me dirige o comentário sobre quem sempre se atrasa. Só posso sorrir, sem confirmar nem desmentir, mas tem razão, são sempre os mesmos.

De uma mala com quantidade limitada de roupa, cada convidado escolheu a combinação de peças que lhe fará mais janota para este jantar, honrando o momento e os companheiros de jornada.

Sensibiliza-me este pequeno gesto, para mim com cada vez mais valor num mundo que parece pretender desvalorizar a solenidade de alguns momentos.

Não é só mais um jantar, é o jantar de despedida de uma semana em que um conjunto de pessoas partilhou pedaços das suas vidas e que, agora, têm uma história comum.

Se o nosso tempo de vida não é importante, então o que é?

Para mim, seguramente que fica uma memória, independentemente de quantos jantares destes possa ter feito e já foram em bom número.

Não me lembro de todos de forma espontânea, se bem que de alguns nunca me esqueci. Mas quando vejo as fotografias, é como se uma luz se acendesse num quarto escuro e imediatamente recordo-me das conversas e dos sorrisos.

Para quem seja naturalmente tímido, grupo em que me incluo, os jantares são momentos de exposição sem escapatória e, nem que seja só por isso, nunca me serão indiferentes.

No entanto, quando as qualidades destes jantares estão ao mais alto nível, as atenções são desviadas e a decoração e os pratos são os monarcas do momento.

Sucedem-se as entradas, os principais, os vinhos e as sobremesas. Todas essas iguarias são seguidas de hhhmm’s, uuuaauuu’s e tantos outros sons de gula e satisfação.

Se para o início do jantar foi marcada uma hora, o fim não tem horário. Ainda assim, tal como o sono de uma criança feliz, resiste a revelar-se, mas é previsível.

Cheguei ao fim de um jantar e assim, de mais uma viagem.

Fico sempre com a esperança de poder ter tocado positivamente na vida de cada um que me acompanhou.

Bem hajam,

David Monteiro

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